

Amy Edmondson, professora de liderança e inovação na Harvard Business School e uma das palestrantes do HSM Summit 2017, trouxe uma profunda reflexão sobre o perfil do líder contemporâneo. Vivemos hoje em um mundo Volátil, Incerto, Complexo e Ambíguo – V. U. C. A., na sigla em inglês. Diante deste cenário, é impossível continuarmos a pensar a liderança e dinâmica das organizações da mesma forma que fazemos desde a revolução industrial – acreditando que as relações devem ser regidas por modelos verticais em que processos colaborativos são raros no ambiente organizacional. O mindset da era industrial, defende que a estrutura vertical é muito mais importante, por isso não há incentivos para pensar e agir horizontalmente e de forma colaborativa.
No mundo V.U.C.A, não dá para ser bem-sucedido sem valorizar as relações horizontais. As parcerias, colaborações entre pares e a liderança distribuída são muito mais importantes que as relações verticais baseadas meramente no poder e nos processos hierarquizados. As organizações precisam compreender que para se manterem relevantes, será necessário valorizar um novo perfil de liderança e uma nova forma de compor e gerir equipes. Segundo Amy, as equipes precisam trabalhar de forma interdependente, com todos colaborando pelo mesmo propósito, tendo em mente que não há mais estruturas estáveis e que a própria composição do time muda com o tempo.
Amy destaca o poder do “teaming”, palavra em inglês que retrata a formação de equipes de forma orgânica. TEAMING é um verbo que significa atuar em equipe concomitantemente com tudo mais – coordenando e colaborando por meio das fronteiras organizacionais, sem o luxo de estruturas estáveis. Em outras palavras, é uma forma de organização e muitas vezes de reestruturação do time, em situação complexas e imprevisíveis, com o “avião em pleno voo”. Para ilustrar esta liderança que se reorganiza conforme o contexto, Amy citou o caso dos mineiros sobreviventes desabamento em uma mina de cobre no Chile, em 2010. Presos a 700 metros abaixo da terra e com comida suficiente apenas para um dia, especialistas diziam que era impossível realizar o resgate. Neste ambiente complexo e incerto, surgiu um líder que conseguiu entender o contexto e fazer com que o resgate fosse bem-sucedido. O motivo principal, foi a organização de uma equipe multidisciplinar que atravessou as fronteiras organizacionais. Andre Saugarret, o líder escolhido para esta missão, foi capaz de ouvir de forma assertiva todos os lados e transmitir de forma simples e franca, informações sobre o tamanho do desafio e as possibilidades de resolução, para todos os envolvidos, estivessem eles abaixo ou acima de sua autoridade.
O caso dos mineiros do Chile, nos mostra que além de entender nova dinâmica e composição das equipes, as lideranças devem se preparar para 3 competências fundamentais para promover inovação e colaboração:
1. Contextualizar o desafio
É papel do líder, dar sentido e significado às situações. É importante entender como cada pessoa se sente em cada situação e contextualizar com clareza, quais são os desafios, o que se espera dos colaboradores e até onde o erro é aceitável. Ao mapear o contexto, é essencial promover a autonomia e colaboração dos times envolvidos e exagerar na clareza e transparência.
2. Promover o fracasso inteligente
Antes de classificar uma tentativa como fracasso, é necessário entender que sucesso tem diferentes significados, dependendo da complexidade do trabalho. Sucesso em uma fábrica, significa eficiência. Em um hospital, segurança e qualidade. Em pesquisa e desenvolvimento, é a inovação gerada. Quando projetos são muito complexos, a aceitação ao erro é natural. Mas, na maioria das vezes, o fracasso não é aproveitado de maneira inteligente.
Da mesma forma que sucesso é relativo, o fracasso também é.
Amy classifica o fracasso em três tipos:
1- Fracasso evitável – São erros resultantes da falta de preparo, portanto, evitáveis;
2 – Fracasso Complexo – Resultado de combinações imponderáveis de fatores complexos (internos, externos ou ambos), mas que podem ser antevistos;
3 – Fracasso inteligente – É o erro honesto, resultados indesejáveis de tentativas em cenários inéditos, mas com o qual se aprende, tira novas conclusões e se avança.
O posicionamento do líder é imprescindível para diminuir os dois primeiros tipos de fracassos e promover cada vez mais, o fracasso inteligente. Sem abertura para o risco, não há inovações. Por isso, os líderes não devem ter medo de propiciar os fracassos inteligentes, pelo contrário, precisam aprender com eles, falar sobre os erros, para que possa cada vez mais refinar e assimilar o conhecimento. Uma boa forma de promover fracassos inteligentes e maximizar o aprendizado é abrir espaço para prototipagem. Amy defende que “é preciso conceber um projeto piloto para que ele fracasse, e não para que seja bem-sucedido. Para isso, não pode ser testado na situação ideal, mas no cenário real. A meta de um projeto-piloto é aprender o máximo possível, não demonstrar o valor do novo projeto para a alta gerência”.
3. Criar segurança psicológica
Segundo Amy, ninguém quer passar uma imagem de ignorante, incompetente, negativo ou intruso. Esta preocupação excessiva em passar uma imagem positiva gera muitas vezes, o medo de se expor, de falar o que acredita e a escolha por evitar o conflito. Este comportamento pode ser negativo para as empresas, uma vez que uma equipe em que todos concordam com tudo, é difícil promover a inovação. Neste sentido, para promover a diversidade de ideias entre os profissionais, é preciso que o líder possibilite a criação de um ambiente em que todos saibam que não serão punidos ou humilhados por expor suas ideias, perguntas, preocupações ou erros. Ao promover a segurança psicológica, o líder permite com que todos possam se expressar de maneira franca e contributiva para a empresa, gerando confiança e colaboração entre os pares e a liderança.Por fim, não existem receitas de bolo para atuar no mundo V.U.C.A, mas Amy se arrisca a dizer que para ter sucesso, os líderes devem almejar alto; juntar forças e cooperar; promover os fracassos inteligentes; aprender depressa e repetir com muita clareza.
Fonte: Linkedin | Poliana Reis Abreu | Gerente de Conteúdos e Parceria HSM Educação Executiva
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