A linguagem do erro

Equipe Nortus
30/07/2015

Ao olharmos para a linha da evolução humana, percebemos vários períodos que marcaram o desenvolvimento da humanidade, e em um deles – nomeado por alguns autores como Idade Média – apareceu naturalmente o senso de “estar errado”. Hoje, é possível olhar a história de um ponto de vista biológico e ver que isso aconteceu para que fosse possível frear os impulsos de “conseguir as coisas a qualquer custo”, pois o risco para a continuidade da vida começava a aparecer juntamente com esta forma estabelecida de viver sem culpa.

Com a ideia de erro, nasceu a punição. A partir disso, uma nova forma de estruturar as relações nos sistemas social, econômico e familiar se estabeleceu.

Hoje, fazemos, sem perceber, muitas coisas por medo de errar, e não porque queremos de fato melhorar, ou de fato expressar o potencial que possuímos enquanto seres que aprendem e ensinam. Muitos de nós não veem isso, e simplesmente continuam agindo como aprenderam no passado.

Será que enxergamos? Será que vemos que nossas relações estão embasadas em culpar ou sentir-nos culpados? Será que enxergamos que nossa forma de falar, na maioria das vezes, está carregada de cobranças e esperanças, e com isso deixamos de fazer o que é necessário, da nossa parte?

Será que vemos que somente existe o que serve e o que não serve para que a vida continue, e que o “errado” é um conceito que é determinado pela cultura que cada um de nós faz parte?

Tudo acontece por causa das necessidades. Quando os contextos geram novas necessidades, com certeza acontecerão mudanças na forma de pensar, de se relacionar e de fazer as coisas. A vida acontece, necessariamente, em três momentos contínuos; são eles o de criar, o de manter e o de mudar. Isso faz possível o produto chamado evolução.

Cada época vivida pela humanidade traz o antídoto para o “perigo” que a época anterior criou, e tem ocorrido que a crise precisa acontecer para que as pessoas vejam que precisa mudar. Mas será que precisamos da crise para mudar? Será que precisamos esperar que a mudança aconteça bruscamente para que pensemos em nos renovar?

O conceito de erro e a crise andam de mãos dadas. Enquanto carregarmos como pano de fundo o aprendizado pelo medo, só encontraremos formas de ensinar e aprender pautadas em erro e punição. Quando fazemos isso, é a parte mais primitiva do nosso cérebro que é ativada, e não a parte que permite a criatividade para novos aprendizados e para novos resultados acontecerem. Logo, viveremos em crise continuamente.

O objetivo destas palavras é o de levar uma reflexão sobre precisarmos – e podermos – mudar a linguagem que usamos em nosso dia a dia; isto é, sairmos do binômio erro e punição, que geram a crise, e irmos para a construção consciente do que podemos criar.

Só enxergamos crises porque fomos preparados para estarmos errados de alguma forma, e uma crise, então, é vista como uma punição. Não vemos que uma crise é só um produto. Estudar e mesmo assim ir mal em uma prova só acontece porque não estudamos o suficiente, e isso é somente um produto de nosso despreparo, e não uma punição.

Comecemos a viver sem a necessidade de crises. Vamos nos apropriar, de forma consciente, da condição intrínseca de renovação que temos, e usá-la também para as coisas do nosso dia a dia?


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