É possível que já estejamos vivendo um transtorno causado pelo “foco nas pessoas” dentro das organizações?


Pode parecer ao oprimido a vitória por séculos de opressão, mas o pêndulo da evolução comportamental pode estar tornando agora submissos os sistemas corporativos, sem ao menos terem consciência de que as pessoas precisam focar em si mesmas e em seu contínuo desenvolvimento individual apenas porque precisa ser assim e não como uma moeda de troca.
Se, como humanidade, criamos, geração após geração, um sistema econômico e social como o que vivemos hoje, é um pouco de insanidade buscar culpados e vítimas ao longo da história, pois não temos condições de buscar informações sistêmicas, e sim informações fragmentadas de milhares passados.
Ao que parece, o foco nas pessoas traz uma armadilha que precisa ser cuidada. Se é falado de ter foco nas pessoas, é porque o foco anterior foi somente na produção, no resultado, sem consideração ao indivíduo trabalhador. Nisso, criou-se uma relação de comiseração mútua, em que uma falsa fraqueza (dos trabalhadores) alimentou a uma falsa força (dos empregadores).
A armadilha está no modelo cultural estabelecido que faz fraco o trabalhador e faz forte o empregador. Esse modelo cultural, entranhado em forma de emoções no sistema biológico do ser humano, instiga que o trabalhador passe a ser o forte e que o empregador passe a ser o fraco. E novamente haverá dor e insanidade intelectual, pois, se para ganhar é preciso alguém perder, ainda estaremos vivendo na primitividade da nossa espécie.
A grande necessidade da vida, que é acontecer sem impedimentos, não consegue se expressar na espécie humana. As abelhas e as baratas estão presentes há milhões de anos no planeta, se renovando a cada grande dificuldade, mas a espécie humana, considerada a mais inteligente, consegue se colocar em um risco descarado e contínuo, de forma silenciosa e perigosa, sem parar – com seriedade – para construir o futuro que precisa ser vivido agora.
O grande problema é que o foco nas pessoas – como está sendo proposto – as tornará fracas, pois querem ser fortes por meio de reconhecimento e atenção, como paga de séculos de “opressão”, e não pelo seu empenho e desempenho real em mostrarem seu potencial, suas condições e as suas criações no dia a dia. O foco nas pessoas não pode se dar por obrigação, e sim por consciência. E, para isso, é preciso dar espaço para que as pessoas vejam que precisam se melhorar por elas mesmas, e não aguardar que só as organizações façam por elas, pois ainda poderá haver o interesse somente pela produtividade.
A produtividade precisa acontecer porque precisa acontecer. Os profissionais precisam se melhorar porque precisam se melhorar. É simples. Todos trabalham e têm um retorno financeiro no final do mês, e, com isso, atendem as suas necessidades materiais particulares. Se o sistema é “injusto”, isso é outra questão, e precisa ser mudada com educação real; melhoramento de nós mesmos, por nós mesmos; e anos de ritmo e construção em uma direção que nos leve a mais saúde social enquanto humanidade.
A produtividade não tem tamanho para contribuir. Qualquer coisa feita que carregue o melhor de alguém em seu feitio é uma grandeza sem tamanho, pois está carregando a vida, e não um monte de feridas e misérias emocionais disfarçadas de terem condições para fazer algo maior. Vivemos uma doença antiga. Somos pequenos quando achamos que precisamos fazer algo grande, e somos grandes quando fazemos o que precisa ser feito, independente do tamanho da criação.
É preciso espaço para que as pessoas se desenvolvam como seres humanos, tendo como cenário qualquer lugar, com a única premissa de que precisam produzir o que precisam produzir, pois isso é por elas também, demonstrando que servem à vida em sua eterna reconfiguração para alcançar formas diferentes de acontecer.
Uma sociedade saudável se construirá de indivíduos saudáveis. É preciso que se modifiquem os padrões sociais coletivos para que o ambiente necessário se estabeleça. Não é preciso o forte, nem fraco. É preciso o melhor ser humano que que cada um pode ser em sua humanidade.
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