
Se em contextos de normalidade a comunicação já é um ponto essencial e desafiador, em contextos em que existe uma crise instalada, a atenção e cuidado com este processo é essencial. A principal diretriz a ser considerada em meio à crise é: nada é óbvio.
Geralmente, as crises anunciam mudanças que estão para acontecer, e essa situação gera, em muitas pessoas, um sentimento desorganizador, e mexem com parte das necessidades básicas humanas, como o desejo de segurança, controle e previsibilidade.
Se quisermos atravessar o período de crise com passos assertivos em direção às mudanças que o novo contexto exige, a comunicação é um fator determinante para a qualidade desta jornada.
Ao nos envolvermos em tensões e preocupações, é comum deixarmos de lado cuidados e ações rotineiras, mobilizando toda a atenção para o que é novo ou aquilo que se apresenta como uma crise. Por isso, ao lidar com pessoas fragilizadas, líderes e gestores devem reforçar pontos óbvios, principalmente aqueles ligados à rotina e que envolvem a segurança no trabalho.
Outro ponto fundamental ao estabelecer a comunicação com a equipe é o aspecto comportamental e relacional, que requer dois passos importantes para a comunicação se dar com efetividade.
O primeiro deles é o processo de descompressão, no qual abre-se espaço para que cada integrante, inclusive você, possa compartilhar o que sente. Este é um excelente ponto de partida para construir uma comunicação empática e efetiva para aquilo que precisa ser concretizado no novo contexto. Esta prática inclui novas perspectivas, gera mais informações ao sistema e torna tudo mais claro e transparente.
Depois de passarem por este processo, as equipes entram no segundo passo, que é a organização do pensamento. Sempre que podemos falar do que pensamos e sentimos, conseguimos organizar melhor o que fazer, pois já reconhecemos o conteúdo emocional trazido na etapa anterior. A palavra é a via de expressão que permite diluir a carga emocional e dar acesso à construção de um pensamento organizado.
A organização do pensamento assegura que o que será comunicado em um momento de crise são informações livres de julgamento e carga emocional, ordenadas e estruturadas pelo gestor ou pelo líder considerando as diferentes perspectivas e adotando a linguagem adequada ao seu público, ou seja, produzindo sentido para todos na equipe.
Portanto, a comunicação com efetividade em tempos de crise está intimamente ligada à gestão emocional dos líderes, à sua capacidade de acolhimento de perspectivas e à condução de sua equipe ao desenvolvimento.
Finalizo este artigo com algumas perguntas que podem lhe auxiliar neste processo de trazer luz aos sentimentos e ampliar da consciência de todos que integram a equipe. Vale experimentar esta abordagem sempre que possível, especialmente nos momentos de crise.
Perguntas para o primeiro passo (processo de descompressão):
- O que assusta mais neste momento?
- Quais são os sentimentos mais fortes para nós em relação a tudo isso?
- O que mais dificulta neste momento?
- O que de pior pode acontecer?
- O que nos deixa vulneráveis?
- O que nos protege mais neste momento?
- O que faz com que a gente aguente firme?
- Qual é o nosso propósito?
- Quais cenários mais nos assustam?
- Este cenário está acontecendo neste agora?
- Quem são as pessoas com quem a gente pode contar?
Perguntas para o segundo passo (organização do pensamento):
- O que precisamos minimamente para fluir?
- Quais recursos nós temos para enfrentar a crise?
- No coletivo, o que nos faz permanecer fortes?
- Quais ações e ideias a nossa equipe possui para estruturarmos, nesse momento, ações que ajudem em todas as dimensões?
Agora que você leu este artigo, convido-lhe a baixar uma ferramenta que proporciona um exercício de reflexão sobre processo de comunicação em momento de crise já vivido por você e um novo posicionamento sobre ele.
Mirieli Colombo é sócia-executiva da Nortus, referência em interações colaborativas, atua há mais de 21 anos em comunicação com foco em desenvolvimento individual e coletivo. Como consultora em empresas, tem ênfase na formação de líderes na excelência da comunicação e em formação de equipes. É fonoaudióloga, especialista em voz, coaching e mentora de comunicação, comportamento e liderança, especialista em Dinâmica dos Grupos pela SBDG).
