Escuta ativa: você sente a necessidade de concordar ou discordar quando escuta o outro?

Nós, humanos, temos uma capacidade inata de reduzir. É um processo natural, de sobrevivência, para captar, reter e compreender informações e tudo que acontece à nossa volta. Porém, essa tendência de reducionismo cria um grave problema: a eliminação se torna mais forte que a necessidade de integrar.

Isso explica porque não sabemos escutar. Quando alguém nos diz alguma coisa, em vez de escutar até o fim, logo começamos a comparar o que está sendo dito com ideias e conceitos que já temos armazenados. Esse processo mental é chamado por Humberto Mariotti de automatismo concordo discordo, e, segundo ele, quando levado a extremos é muito limitante.

Entenda mais a seguir.

A grande dificuldade: ouvir até o fim

A verdade é que ouvir até o fim, sem concordar nem discordar, tornou-se extremamente difícil para todos nós. Não sabemos ficar — mesmo temporariamente — entre o conhecido e o desconhecido. Mariotti explica que confundimos o desconhecido com o nada e por isso o tememos.

  • Experimente escutar até o fim, sem se colocar a favor ou contra, o que o outro está dizendo;
  • Procure evitar que logo às primeiras frases dele você já esteja pensando no que irá responder;
  • Percebe como isso é desafiador?

O automatismo concordo-discordo é uma das manifestações mais poderosas do condicionamento de nossa mente pelo pensamento linear, isto é, pelo modelo mental ou/ou, — a lógica binária do sim/não”, define Mariotti.

Não tem problema algum em discordar ou concordar. O que é realmente limitante é a reação instantânea, automática, linear, do tipo sim/não. É esse comportamento que limita nossa capacidade de raciocínio, que faz com que não possamos suspender, nem por alguns instantes, nossos pressupostos e julgamentos.

Concordar ou discordar: quando acontece

Concordar logo que percebemos que o interlocutor está tratando de algo sobre o qual já temos opinião formada, muitas vezes, é uma forma de não querer ouvi-lo até o fim. O que isso quer dizer: você entende que já sabe do assunto e não se dá ao trabalho de escutar mais

Dessa forma, utilizamos algumas das variantes do “já conheço”, do “isso é antigo” — como se o outro não tivesse o direito de pensar e expor o que pensa à sua maneira, sendo ou não original o seu ponto de vista.

O mais comum, porém, é que logo que alguém começa a expor uma determinada ideia comecemos a buscar formas de contradizê-lo. Para Mariotti, em qualquer das hipóteses, no fundo o que pretendemos é desqualificar o interlocutor.

O autor explica que o automatismo concordo-discordo é típico da lógica da nossa cultura patriarcal, que faz da desconfiança uma reação automática. É compreensível que em uma cultura competitiva e reativa como a que vivemos, gostar dos outros e confiar neles, a ponto de ouvi-los, verdadeiramente, não é nada fácil.

Aprender a ouvir até o fim, sem concordar nem discordar de imediato, é sobretudo uma postura de respeito ao outro. É possível que ele custe a entender isso e, portanto, nem sempre nos retribua com o mesmo respeito. Entretanto, nossa postura ética não pode depender de retorno.

Escuta ativa: é legítimo não ter opinião formada sobre tudo

É comum as pessoas nos cobrarem sempre opiniões definitivas. A dúvida e o talvez são circunstâncias assustadoras para nós. “Como assim você não sabe?”, costumamos ouvir. 

Em geral, assumimos uma posição preconceituosa diante de quem nos diz que ainda não tem opinião formada sobre um determinado assunto. Taxamos eles de indecisos ou em cima do muro porque estamos convencidos de que todos devem ter sempre posições imediatas e determinantes sobre tudo.

É importante ressaltar que concordar nem sempre significa nos colocarmos à mercê das opiniões e preconceitos do outro, ao mesmo tempo que discordar não quer dizer que devamos colocarmos o outro à mercê de nossas crenças.

Aí entra a escuta ativa: essa é uma técnica que auxilia a manter um diálogo eficiente, em que o ouvinte é capaz de realmente interpretar e assimilar todo o conteúdo que é expresso pelo interlocutor, de forma sincera.

Então, com a escuta ativa, nosso grande desafio é transcender esse padrão mental dual, do “sim ou não” e abrir espaço cognitivo para incluir as percepções dos outros, sem segregar, excluir e disputar quem têm a “verdade” ou a “razão”. E tudo começa no exercício de escutar.

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